Setor vidreiro europeu debate políticas para superar barreiras e impulsionar a economia circular na construção civil.
O vidro plano é um material exemplar em termos de sustentabilidade: infinitamente reciclável sem perda de qualidade. No entanto, um paradoxo assombra o setor, especialmente no que diz respeito ao vidro proveniente de demolições e reformas de edifícios. Enquanto a indústria já recicla com eficiência seus próprios resíduos de fabricação, uma vasta quantidade de vidro em fim de vida, oriundo da construção civil, ainda é descartada em aterros. Esta representa uma perda massiva de um recurso valioso que poderia reduzir o consumo de matérias-primas virgens, diminuir o uso de energia e cortar emissões de CO2 no processo de fabricação.
Consciente desse desafio, a indústria vidreira europeia, representada por associações como a Glass for Europe, tem intensificado o diálogo com órgãos reguladores da União Europeia para construir um ecossistema de reciclagem mais eficaz. O debate centra-se na criação de um quadro regulatório que transforme o descarte em oportunidade, estimulando uma verdadeira economia circular para o vidro plano.
Propostas para um ciclo fechado e eficiente
A transição de um modelo linear para um circular requer a superação de barreiras logísticas, econômicas e regulatórias. Atualmente, o vidro de demolição frequentemente se mistura a outros detritos, tornando sua separação e limpeza inviáveis economicamente. Para reverter esse quadro, a indústria defende um conjunto de medidas estratégicas, discutidas em reuniões recentes com a Comissão Europeia.
Uma das propostas centrais é a implementação da coleta seletiva obrigatória de resíduos de construção e demolição no local da obra. Essa prática garantiria um fluxo constante de cacos de vidro (vidro reciclado) de maior pureza, prontos para serem reintroduzidos no processo produtivo. Outra medida crucial é o estabelecimento de critérios de fim de resíduo para os cacos de vidro plano, o que os reclassificaria como um produto, e não mais como lixo, facilitando seu transporte e comercialização entre os países da União Europeia.
Adicionalmente, discute-se a proibição de aterrar vidro reciclável, uma política que forçaria o desvio desse material para os canais de reciclagem. Para que essas medidas sejam eficazes, é fundamental o desenvolvimento de um sistema robusto de coleta de dados, permitindo monitorar o progresso, identificar gargalos e informar futuras decisões políticas. O engajamento não se limita à indústria e aos governos; ele envolve toda a cadeia, desde arquitetos e construtoras, que devem priorizar o design para a desmontagem, até as empresas de demolição, que precisam adotar novas práticas de separação de materiais.
O caminho para fechar o ciclo do vidro na construção é complexo, mas as discussões em andamento na Europa sinalizam um compromisso sério em transformar potencial em realidade. Ao criar um mercado funcional para o vidro de construção em fim de vida, o setor não apenas avança em sua própria descarbonização, mas também reforça o papel do vidro como um pilar da construção sustentável do futuro.